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Jornalista x influencer, quem diz a verdade?

Escrita por: Beto Moraes*

É constrangedor escrever e repetir o óbvio: não há democracia sem imprensa livre. E não há imprensa livre onde jornalistas são condenados por dizer a verdade. Esse paradoxo é o que vivemos no dia a dia e, hoje, massacrado pelo volume de fake news e influenciadores digitais que postam sem compromisso quaisquer fatos, assistimos o pavor e o medo tomarem conta da tribo a qual fazemos parte: os imigrantes.

Todos reconhecemos que essa parcela da sociedade vive momentos conturbados. Claro que governos precisam calibrar bem suas políticas imigratórias, uma vez que os recursos, mesmo nas nações mais prósperas, são limitados e as demandas crescentes. No entanto, medidas extremamente radicais acabam por exacerbar o obstáculo que em teoria visam a combater. 

O problema é que saber o que é verdade ou não e em quem confiar virou uma arte. Parte disso porque a internet proporcionou a todos o acesso à informação, mas também deu voz a seres humanos sem compromisso com o fato. Aqui cabe a máxima: ‘quer conhecer o caráter de uma pessoa? Dê-lhe poder.’ E muitos se julgam poderosos porque manipulam a opinião pública.  

Não que o jornalismo fosse imune a produtos de má qualidade, com histórias distorcidas, vieses excessivamente partidários e mesmo mentiras, mas eram minoria. Hoje, acreditam em histórias postadas sem apuração mas que vão no âmago da sensibilidade. Qual compromisso com o seu amanhã tem alguém que você nunca viu?

Sim, é verdade que o jornalismo como um todo tinha um alcance restrito a pouco mais que a elite da sociedade em qualquer parte do planeta. 

Com a abrangência e abertura proporcionadas pela internet e as mídias sociais, a imprensa mergulhou no novo universo da velocidade das notícias, mas pagou seu preço por trocar um meio que conhecia bem e dominava por um espaço sem limites que dá acesso a todos, criando uma miscelânea de informações verdadeiras e fakes que abriga tanto fatos reais quanto fantasiosos. 

Que armas o leitor, o ouvinte ou o espectador tem para distingui-los? 

O poderoso New York Times, referência para todos os jornais do mundo, editado sob o lema All the news that fit to print, também passou por tempos difíceis. No fim do século passado, foi surpreendido pelo avanço das mídias sociais como locus de leitura de noticiário, cuja fonte original, que as alimentava, eram justamente os jornais impressos, como ele próprio.

Quem mora nos Estados Unidos está acompanhando de perto o drama dos imigrantes. A dor aumenta para essa parcela da população indocumentada quando ela é alvo também de vídeos, áudios de grupos de WhatsApp e ‘reportagens’ feitas com celulares. 

Não que as ações do ICE sejam irreais. Mas basta ter um policial parado na porta de uma padaria para que em minutos se espalhe a notícia que agentes estão ‘pegando’ em tal lugar. Quem são essas pessoas que espalham o terror? Onde estava a verdade dita?

Tenho sofrido com isso. Há quatro meses meu telefone não para de tocar. São ouvintes e leitores querendo saber se tal assunto é verdade, se haverá uma operação em massa. E me pergunto: será que se algo do quilate que propõem essas notícias falsas fosse real os jornalistas profissionais não falariam. 

O tempo dos jornalistas hoje se divide assim: metade correndo atrás de notícias e outra metade tentando desmentir o que alguém maliciosamente espalhou. E o pior é que nossos soldados do bem são cada vez menos. 

A mídia social oferece um novo vetor para todas as formas de jornalismo, assim como o preço de entrada zero para o chamado jornalismo cidadão e a habilidade instantânea de verificar os fatos dos jornalistas e dos políticos. Quantos que você conhece checam a veracidade dos fatos?

Não estou falando que as redes sociais são ruins. Afirmo apenas que os principais riscos são a falta de confiabilidade – sejam notícias internacionais falsas ou a pressa para publicar antes de checar – e a comunicação fechada entre grupos com a mesma ideologia sem uma apuração jornalística real.

  • Beto Moraes – Jornalista e radialista, apresentador do programa Bom Dia Manchete na rádio Manchete USA. 

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